Biodiversidade 78 / 2013-10

Descargue a revista completa: Biodiversidade 78 / 2013-4

O mundo ainda é alimentado por todos aqueles, todas aquelas que, em suas comunidades, continuam empenhados e empenhadas em defender o que poderíamos chamar de um âmbito de cuidados minuciosos, de responsabilidades detalhadas, de sonhos compartilhados que se reforçam produzindo nossos pró­prios alimentos e mantendo as condições dessa produção o mais perma­nentes (hoje diríamos sustentáveis) possível.
O mundo ainda é alimentado por todos aqueles, todas aquelas que, em suas comunidades, continuam empenhados e empenhadas em defender o que poderíamos chamar de um âmbito de cuidados minuciosos, de responsabilidades detalhadas, de sonhos compartilhados que se reforçam produzindo nossos pró­prios alimentos e mantendo as condições dessa produção o mais perma­nentes (hoje diríamos sustentáveis) possível.

Editorial

A foto da capa mostra um menino que se pendura nos galhos de uma árvore à margem de um rio: o Usumacinta (o “bugio”). Apesar de brincar feliz, porque brincar resolve tudo, pelo menos por instantes, ele (como muitos outros de sua família e amigos) espera atravessar e adentrar em terri­tório mexicano para subir o máximo possível em seu caminho rumo ao sonho do dinheiro como solução. E o dinheiro resolve quando as pessoas se veem despojadas de seus ambientes e meios de subsistência com os quais garantiam a vida no cuidado e nas certezas compartilhadas.
A foto da capa mostra um menino que se pendura nos galhos de uma árvore à margem de um rio: o Usumacinta (o “bugio”). Apesar de brincar feliz, porque brincar resolve tudo, pelo menos por instantes, ele (como muitos outros de sua família e amigos) espera atravessar e adentrar em terri­tório mexicano para subir o máximo possível em seu caminho rumo ao sonho do dinheiro como solução. E o dinheiro resolve quando as pessoas se veem despojadas de seus ambientes e meios de subsistência com os quais garantiam a vida no cuidado e nas certezas compartilhadas.

Quem vai nos alimentar. A cadeia industrial de produção de alimentos ou as redes camponesas de subsistência

Aqueles que governam, aqueles que elaboram as po­líticas, e a imensa maioria dos habi­tantes das cidades, não sabem que exis­tem importantes sistemas alimentares invisíveis. Passaram o último meio século sem questionar o modelo ocidental de produção, processamento e con­sumo de alimentos.
Aqueles que governam, aqueles que elaboram as po­líticas, e a imensa maioria dos habi­tantes das cidades, não sabem que exis­tem importantes sistemas alimentares invisíveis. Passaram o último meio século sem questionar o modelo ocidental de produção, processamento e con­sumo de alimentos.

Crise e subsistência. O medo não passará (ou para que aquilo que dizem que “tem que passar” não passe)

Ter medo do medo. De duas coisas, uma: a crise, ou é uma incitação ao medo — ao pânico que o capitalis­mo requer para efetuar os reajustes estruturais sem os quais não conseguirá sobreviver —, ou é uma oportunidade de chegar ao fundo do poço. Chegar ao fundo do poço quer dizer recuperar dolorosamente e às vezes com alegria a percepção do concreto: não só de quão duro se torna ganhar a vida, mas também do solo e dos outros elementos, e da possibilidade, sempre aberta, da camaradagem. É limpar o olhar de miragens e talvez do excesso de abstrações, mas também recordar que, em épocas não muito distantes, como ainda em muitíssimos lugares do campo mexicano, as pessoas extraíam diretamente da terra, das águas e do ar a maior parte do que é necessário para sua subsistência. Não sozinhas, mas em solidariedade.
Ter medo do medo. De duas coisas, uma: a crise, ou é uma incitação ao medo — ao pânico que o capitalis­mo requer para efetuar os reajustes estruturais sem os quais não conseguirá sobreviver —, ou é uma oportunidade de chegar ao fundo do poço. Chegar ao fundo do poço quer dizer recuperar dolorosamente e às vezes com alegria a percepção do concreto: não só de quão duro se torna ganhar a vida, mas também do solo e dos outros elementos, e da possibilidade, sempre aberta, da camaradagem. É limpar o olhar de miragens e talvez do excesso de abstrações, mas também recordar que, em épocas não muito distantes, como ainda em muitíssimos lugares do campo mexicano, as pessoas extraíam diretamente da terra, das águas e do ar a maior parte do que é necessário para sua subsistência. Não sozinhas, mas em solidariedade.

As leis que privatizam e controlam o uso das sementes criminalizam as sementes crioulas. Aí vem a nova 970 atualizada!

O debate sobre as sementes na Colômbia deve centrar-se em perguntas como: Pode-se aplicar sobre as sementes alguma forma de propriedade intelectual que permita privatizá-las mediante patentes ou direitos de obtentores vegetais? O que se pretende com as leis de sementes, e quem se beneficia ou é afetado: as empresas ou os agricultores? As normas de sementes buscam realmente melhorar sua qualidade e sanidade ou buscam o controle monopólico do mercado? As sementes certificadas e registradas são as únicas sementes legais que podem circular no país? O uso e comercialização de sementes crioulas podem ser ilegais? Que responsabilidade e papel os governos nacionais desempenham na defesa das sementes?
O debate sobre as sementes na Colômbia deve centrar-se em perguntas como: Pode-se aplicar sobre as sementes alguma forma de propriedade intelectual que permita privatizá-las mediante patentes ou direitos de obtentores vegetais? O que se pretende com as leis de sementes, e quem se beneficia ou é afetado: as empresas ou os agricultores? As normas de sementes buscam realmente melhorar sua qualidade e sanidade ou buscam o controle monopólico do mercado? As sementes certificadas e registradas são as únicas sementes legais que podem circular no país? O uso e comercialização de sementes crioulas podem ser ilegais? Que responsabilidade e papel os governos nacionais desempenham na defesa das sementes?

Mobilização camponesa na Colômbia coloca os holofotes sobre as sementes

Em 19 de agosto, as organizações camponesas colombianas iniciaram uma paralisação agrária nacional. Bloquea­ram estradas, derramaram leite sobre os automóveis e, basicamente, deixaram de produzir comida para as cidades. O problema? Que estão sendo asfixiados pelas políticas governamentais. O Estado não proporciona quase nenhum apoio ao setor camponês de pequena escala.
Em 19 de agosto, as organizações camponesas colombianas iniciaram uma paralisação agrária nacional. Bloquea­ram estradas, derramaram leite sobre os automóveis e, basicamente, deixaram de produzir comida para as cidades. O problema? Que estão sendo asfixiados pelas políticas governamentais. O Estado não proporciona quase nenhum apoio ao setor camponês de pequena escala.

Diante da ofensiva da UPOV no Chile

A ofensiva da UPOV no Chile pouco difere daquilo que estão tentando impor em muitos outros países. Diversos artigos facilitam a apropriação de sementes locais por parte das empresas, criminalizam o uso de sementes próprias por parte do campesinato, e impõem elementos absurdos como o de as empresas que registram alguma variedade como própria poderem, depois, impe­dir o uso de qualquer semente que seja parecida. E a ameaça do confisco de sementes, cultivos e plantações faz parte das novas sanções e grilhões que são impostos às famílias camponesas que ousem continuar fazendo o que fizeram a vida toda.
A ofensiva da UPOV no Chile pouco difere daquilo que estão tentando impor em muitos outros países. Diversos artigos facilitam a apropriação de sementes locais por parte das empresas, criminalizam o uso de sementes próprias por parte do campesinato, e impõem elementos absurdos como o de as empresas que registram alguma variedade como própria poderem, depois, impe­dir o uso de qualquer semente que seja parecida. E a ameaça do confisco de sementes, cultivos e plantações faz parte das novas sanções e grilhões que são impostos às famílias camponesas que ousem continuar fazendo o que fizeram a vida toda.

Ataques, políticas, resistência, relatos

Equador. Declaração coletiva pela defesa do Yasuní, dos direitos humanos e da vida | Proteger o planeta, manter as empresas petroleiras fora do Bloco ITT no Yasuní | Equador. A Conaie diante da visita do presidente Correa à nacionalidade waorani | Honduras. O governo de Lobo emite ordem de prisão contra a líder lenca Berta Cáceres | Território Bribri na Costa Rica: Para ser memória | Paraguai: Contra a lei, foi dado andamento a um pedido da Monsanto para patentar uma espécie de milho | O Paraguai segundo a Monsanto | “Não acreditamos no investimento agrícola responsável” | Peru: Três grupos empresariais — Gloria, Wong e Oviedo — são os novos barões do açúcar.
Equador. Declaração coletiva pela defesa do Yasuní, dos direitos humanos e da vida | Proteger o planeta, manter as empresas petroleiras fora do Bloco ITT no Yasuní | Equador. A Conaie diante da visita do presidente Correa à nacionalidade waorani | Honduras. O governo de Lobo emite ordem de prisão contra a líder lenca Berta Cáceres | Território Bribri na Costa Rica: Para ser memória | Paraguai: Contra a lei, foi dado andamento a um pedido da Monsanto para patentar uma espécie de milho | O Paraguai segundo a Monsanto | “Não acreditamos no investimento agrícola responsável” | Peru: Três grupos empresariais — Gloria, Wong e Oviedo — são os novos barões do açúcar.

Uma panorâmica e muitas vistas. Fracking: a fratura final dos territórios

A fratura hidráulica (conhecida como fracking) converteu-se na última aposta para terminar de esgotar o subsolo planetário e extrair as últimas gotas de hidrocarbonetos que sustentam a sociedade capitalista petróleo-dependente. Em vez de questionar o brutal consumo de energia dos poderosos do planeta, insustentável sob qualquer ponto de vista, a aposta é recorrer a tecnologias cada vez mais arriscadas e contaminantes para continuar avançando para o abismo. Nesta Panorâmica, oferecemos uma visão da situação global do avanço desta tecnologia promovida pelas grandes corporações do petróleo, seus impactos e, evidentemente, uma imagem das  resistências que se multiplicam.
A fratura hidráulica (conhecida como fracking) converteu-se na última aposta para terminar de esgotar o subsolo planetário e extrair as últimas gotas de hidrocarbonetos que sustentam a sociedade capitalista petróleo-dependente. Em vez de questionar o brutal consumo de energia dos poderosos do planeta, insustentável sob qualquer ponto de vista, a aposta é recorrer a tecnologias cada vez mais arriscadas e contaminantes para continuar avançando para o abismo. Nesta Panorâmica, oferecemos uma visão da situação global do avanço desta tecnologia promovida pelas grandes corporações do petróleo, seus impactos e, evidentemente, uma imagem das  resistências que se multiplicam.